A MEDICINA VETERINÁRIA E OS ÁRABES
Com a decadência de Roma, que foi uma civilização de agricultores e não de pastores, a importância do animal decresce comparativamente à Agricultura, excluindo-se o cavalo, que mantem sua importância como elemento militar e como produtor de força motriz.Durante a Idade Média, tal situação vai se consolidando, surgindo a oportunidade dos árabes passarem à dianteira no interesse sobre a criação de animais, tendo absorvido, neste aspecto, a cultura greco-bizantina, surgindo então seus próprios interessados neste mister. Face a tal situação vários autores de língua árabe se interessaram pela Medicina Veterinária greco-bizantina fazendo que muitos textos chegassem ao ocidente, sobretudo após a Idade Média.
Hunan Ibn Ishak cerca do ano 800, sob o título de Kilabal Felahah traduziu escritos de autores da Hipiátrica como Absyrtus e Theomestro.
Por volta do ano 1020 o grande médico persa de língua árabe Abu Alli Hussain Ibn Sina, conhecido no Ocidente pelo nome de Avicena redigiu a memorável obra Chafa no corpo da qual eram feitas recomendações médicas, envolvendo também aquelas destinadas a animais e suas enfermidades. Avicena pela universalidade e abrangência de conhecimentos tem sido chamado de “Príncipe de todas as Ciências”.
Em 1185 faleceu Abu Béquer Ibn All Malique chamado de Ibn Tufail radicado em Granada na Espanha que redigiu um tratado sob o título “Doenças dos Animais” cujo teor também se reportava aos trabalhos gregos e bizantinos.
Ibn El Awan, nascido em Sevilha, também na Espanha, que se denominava Abu Zacharia escreveu à época de 1200 um excelente trabalho sob o título de “Tratamento dos Cavalos” isto dentro de um compêndio sobre Agricultura entrando em detalhes sobre os mais diversos temas como: raças e vícios dos cavalos, obstetrícia, doenças, evolução de dentição, purgativos, sangria, terapia das mais curiosas, cirurgias, cauterizações, punções, disenteria, hemorragias e até acupuntura. Sem duvida foi o maior tratado em língua árabe escrito sobre Veterinária
No ano de 1327, Kitab El Akoural, escreveu vários textos sobre doenças e patologia dos animais, inclusive muito curiosamente sobre enfermidades de camelos e elefantes.
A serviços das cavalarias do sultão do Egito, em 1350, Ibn Abu Hassus (Abu Berk) escreveu um trabalho intitulado “Saúde dos Cavalos”, segundo os estudiosos, claramente baseado em Vegecio, Columela e Hipócrates Veterinário.
Inúmeros outros autores de escrita árabe contribuíram para o desenvolvimento da Medicina Veterinária. Alem da contribuição científica para Hipiátrica e ao melhoramento dos cavalos, aos árabes deve ser dado o reconhecimento à importância que deram a criação de carneiros, tendo contribuído significativamente para a formação dos merinos que vieram a se tornar conhecidos mundialmente pela qualidade de sua lã.
Abdul Ul Kassim traduziu para o árabe autores armênios, gregos, bizantinos, persas e hindus.
Em igual intensidade são encontradas as traduções de Kosta Ibn Luca e Mohamed Ibn Jakoub.
Perdido na penumbra da história, o árabe-ibérico Ibn Al Beitar legou seu nome para os aveitares, ou seja, pessoas capacitadas em medicina animal.
* Acadêmicos Titulares da Academia Baiana de Medicina Veterinária
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LECLARMCHE, E. Histoire de la Medicine Vetérinaire. Toulouse: Office du Livre, 1936. v. 1, 238p.
TORRES, Geraldo Cezar de Vinháes. Bases para o Estudo da Zootecnia. Salvador: Universidade Federal da Bahia / Universidade Federal de Pelotas, 1990. 463p.
ENCICLOPÉDIA BRASILEIRA DE MÉRITO. São Paulo: Editora Brasiliense, 1964.